Discurso de Penela

No dia 21 de Abril de 2012, Atónio Arnaut é homenageado num almoço organizado pelo Jornal Região do Castelo com o apoio do Município de Penela, onde se reunem conterrâneos e amigos. No seu discurso apresenta o seu percurso como homem e político e denuncia o forte ataque ao SNS, por parte dos interesses que o querem destruir.

Excertos:

(…) Sou de esquerda porque é o lado do coração, e é ele que me dói diante de tantas injustiças evitáveis, de tantas desigualdades gritantes, de tanta corrupção à solta e de tanto especulador impune, a lembrar os vampiros do José Afonso. Dói-me a alma por ver esta velha nação, de quase nove séculos, submetida ao judo dos agiotas nacionais e internacionais e a caminhar insensatamente para o precipício. (…)

Não precisamos de mais austeridade. Precisamos de mais seriedade na política. É inadiável democratizar os partidos despartidarizar o Estado e moralizar a vida pública e empresarial. (…)

Amo a minha terra e a minha Pátria, fiz por elas tudo quanto pude, desempenhei honradamente cargos locais e nacionais e tive sempre na minha mente o bem do povo a que me orgulho de pertencer.  Foi pelo povo personificado pela gente da minha aldeia e da minha freguesia, e por solidariedade ao seu atávico sofrimento, que me lancei na empresa da criação do Serviço Nacional de Saúde e me tenho empenhado na sua defesa, para que todos, independentemente da sua condição económica e social, tivessem acesso a um bem tão precioso e, ao menos, fossem iguais perante a doença, que era a maior calamidade que podia atingir os pobres, então indefesos e desprotegidos. (…)

Estive sempre, e continuarei a estar, ao lado dos fracos e oprimidos. Nunca me deixei seduzir pela ilusão das riquezas e pela vanglória do poder. (…)

É claro que temos que pagar aos credores, embora, parafraseando Aristóteles, a dívida seja, quase sempre, resultado do roubo, porque decorrente da usura e do poder do dinheiro gerar dinheiro sem investimento produtivo, nem trabalho. Mas não podemos esquecer que o Estado tem outros credores mais legítimos – os seus cidadãos e contribuintes. De facto, todos somos credores do Estado pelos direitos arduamente conquistados: à saúde, à educação, ao trabalho, à reforma e às prestações sociais.

Sabemos que Portugal vive, por erros próprios e contaminação da crise internacional, provocada pelos especuladores, um  período de grandes dificuldades. Mas só haverá paz social se o sacrifício for equitativamente repartido por todos  e não haja nem subterfúgios nem offshores por onde escapem as grandes fortunas e os magnatas da alta finança.

Não me resigno a tantas injustiças. Estou contra a corrente, porque é o dever de quem sente e não mente. Não são as reconhecidas dificuldades orçamentais, mas a agiotagem, o compadrio, a submissão aos grandes grupos económicos e a falta de sensibilização social que põem em causa a sustentabilidade do SNS (…)

(o discurso está publicado, na íntegra, in “O Étimo Perdido”)

 

Neste vídeo, Arnaut esclarece o teor do seu discurso com a frontalidade que sempre teve, e para que não restem dúvidas, menciona as pressões que sempre existiram sobre o SNS, desde o momento da sua criação e que se verificam ainda hoje.

(texto do vídeo – reportagem da TVI)

“Desde há 33 anos que eu conheço as pressões que certos grupos económicos exercem e que hoje são superiores ainda, portanto, eu referi-me às pressões dos lobbies, dos grandes grupos económicos (que querem fazer da saúde um negócio) e também, evidentemente, a certos oportunistas que desejam destruir o Estado Social e transformar a nossa democracia num Estado mínimo e sem direitos. Ora bem, portanto, os grupos económicos e a agiotagem, ou seja, aqueles que pedem  dinheiro, por exemplo,  ao Banco Central Europeu a 1%, e emprestam ao Estado Português a 5, 6 e 10, etc… esta agiotagem é que torna difícil a sustentabilidade, não é apenas do Serviço Nacional de Saúde, é do próprio sistema democrático; e é contra eles que temos que lutar”.

https://tvi24.iol.pt/politica/videos/antonio-arnaut-sns-posto-em-causa-pela-agiotagem

 

Pode ver-se, ainda, a reportagem da RTP

https://www.rtp.pt/noticias/pais/antonio-arnaut-homenageado-em-penela_v547229